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Marília Gonçalves


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Marilia


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Luta, substantivo feminino


Luta, substantivo feminino

ABONG *


Livro:
Desde que a ditadura militar brasileira acabou (1985), grupos de direitos
humanos e entidades que reúnem ex-presos(as) políticos(as) e familiares de
mortos(as) e desaparecidos(as) se esforçam por reconstruir a história deste
triste período. Este esforço é muitas vezes prejudicado pela falta de
informações oficiais sobre o funcionamento e ações dos órgãos de repressão,
já que o Brasil, diferente de outros países que passaram por situações
políticas semelhantes, não abriu os arquivos da ditadura.

Ainda hoje, as famílias e amigos(as) de 159 desaparecidos(as) políticos
buscam informações que reconstituam os episódios em que essas pessoas foram
mortas e levem a seus restos mortais. Algumas iniciativas de setores do
governo, sendo a mais recente delas o texto do Plano Nacional de Direitos
Humanos III, procuram instituir comissões de apuração e busca de documentos
e vestígios dos(as) desaparecidos(as), mas ainda enfrentam reações dos
setores militares e conservadores em geral.

Lançado em 25 de março deste ano, em um debate na PUC-SP, o livro "Luta,
substantivo feminino: Mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na
resistência à ditadura", parceria entre a Secretaria Especial de Direitos
Humanos e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, é uma dessas
iniciativas. Coordenada por Tatiana Merlino e Igor Ojeda, jornalistas, a
publicação traz 45 perfis de mulheres assassinadas ou desaparecidas durante
a ditadura militar, além de 27 depoimentos de sobreviventes que, por
pertencerem à organizações de oposição ao regime, foram presas e torturadas.


O livro é a terceira publicação derivada do relatório: Direito à memória e à
verdade, que traz as histórias de vida, militância e morte das 436 pessoas
que assassinadas e desaparecidas por questões políticas entre 1964 e 1985. A
primeira reúne perfis dos(as) quarenta afrodescendentes mortos(as) pela
ditadura e a segunda foca nas violações cometidas pelo regime militar contra
crianças e adolescentes.

Disponível integralmente para leitura no endereço:
http://portal.mj.gov.br/sedh/livromulheres.pdf, Luta, substantivo feminino
é, nas palavras do ministro Paulo Vanucchi, uma forma de jogar "luzes sobre
uma história que o Brasil não deve apagar da memória".

Leia abaixo alguns dos depoimentos presentes no livro:

"Muitos deles vinham assistir para aprender a torturar. E lá estava eu, uma
mulher franzina no meio daqueles homens alucinados, que quase babavam. Hoje,
eu ainda vejo a cara dessas pessoas, são lembranças muito fortes. Eu vejo a
cara do estuprador. Era uma cara redonda. Era um homem gordo, que me dava
choques na vagina e dizia: 'Você vai parir eletricidade'. Depois disso, me
estuprou ali mesmo. Levei muitos murros, pontapés, passei por um corredor
polonês. Fiquei um tempão amarrada num banco, com a cabeça solta e levando
choques nos dedos dos pés e das mãos. Para aumentar a carga dos choques,
eles usavam uma televisão, mudando de canal, 'telefone', velas acesas,
agulhas e pingos de água no nariz, que é o único trauma que permaneceu até
hoje. Em todas as vezes em que eu era pendurada, eu ficava nua, amarrada
pelos pés, de cabeça para baixo, enquanto davam choques na minha vagina,
boca, língua, olhos, narinas. Tinha um bastão com dois pontinhos que eles
punham muito nos seios. E jogavam água para o choque ficar mais forte, além
de muita porrada. O estupro foi nos primeiros dias, o que foi terrível para
mim. Eu tinha de lutar muito para continuar resistindo. Felizmente, eu
consegui. Só que eu não perco a imagem do homem. É uma cena ainda muito
presente. Depois do estupro, houve uma pequena trégua, porque eu estava
desfalecida. Eles tinham aplicado uma injeção de pentotal, que chamavam de
'soro da verdade', e eu estava muito zonza. Eles tiveram muito ódio de mim
porque diziam que eu era macho de aguentar. Perguntavam quem era meu
professor de ioga, porque, como eu estava agüentando muito a tortura, na
cabeça deles eu devia fazer ioga. Me tratavam de 'puta', 'ordinária'. Me
tratavam como uma pessoa completamente desumana. Eu também os enfrentei
muito. Com certa tranquilidade, eu dizia que eles eram seres anormais, que
faziam parte de uma engrenagem podre. Eu me sentia fortalecida com isso, me
achava com a moral mais alta.

[DULCE MAIA, ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), era
produtora cultural quando foi presa na madrugada de 26 de janeiro de 1969,
em São Paulo (SP). Hoje, vive em Cunha (SP), é ambientalista, dirige a ONG
Econsenso e é cogestora do Parque Nacional da Serra da Bocaina].

"Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem
visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha
recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei
a ouvir, sob socos e pontapés: 'Filho dessa raça não deve nascer'. Depois,
fui levada ao Pelotão de Investigação Criminal (PIC), onde houve ameaças de
tortura no pau de arara e choques. Dias depois, soube que Paulo também
estava lá. Sofremos a tortura dos 'refletores'. Eles nos mantinham acordados
a noite inteira com uma luz forte no rosto. Fomos levados para o Batalhão de
Polícia do Exército do Rio de Janeiro, onde, além de me colocarem na cadeira
do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à 'tortura
cientifica', numa sala profusamente iluminada. A pessoa que interrogava
ficava num lugar mais alto, parecido com um púlpito. Da cadeira em que
sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos
seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio,
asfixia. De lá, fui levada para o Hospital do Exército e, depois, de volta à
Brasília, onde fui colocada numa cela cheia de baratas. Eu estava muito
fraca e não conseguia ficar nem em pé nem sentada. Como não tinha colchão,
deitei-me no chão. As baratas, de todos os tamanhos, começaram a me roer. Eu
só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos. Aí, levaram-me ao
hospital da Guarnição em Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo.
Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto
e fez o corte sem anestesia. Foi uma experiência muito difícil, mas fiquei
firme e não chorei. Depois disso, fi cavam dizendo que eu era fria, sem
emoção, sem sentimentos. Todos queriam ver quem era a 'fera' que estava
ali".

[HECILDA FONTELLES VEIGA, ex-militante da Ação Popular (AP), era estudante
de Ciências Sociais quando foi presa, em 6 de outubro de 1971, em Brasília
(DF). Hoje, vive em Belém (PA), onde é professora do curso de Ciências
Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA)].


* Associação Brasileira de Organ
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